A ministra das Pescas e do Mar de Angola, Victória de Barros Neto, criticou as condições higiénicas em que é comercializado o peixe nas praias de Luanda, apontando responsabilidades, nomeadamente, aos armadores. E como o MPLA só chegou ao poder há… 42 anos, só agora pode começar a corrigir o que está mal. Compreende-se…
Aposição da ministra foi assumida hoje, durante a cerimónia de apresentação do Plano de Gestão Ambiental do Porto Pesqueiro de Luanda, que concluiu que “a situação ambiental da zona envolvente é catastrófica”, apelando por isso à conjugação de esforços para inverter a situação.
“Fizemos um mercado também na ilha de Luanda, para resolver aquela pouca vergonha – desculpem, mas é o que se passa na zona da salga e seca. E esta pouca vergonha é feita com o concurso dos próprios armadores, daí a importância de todos juntarmos sinergias para resolver esses problemas”, disse.
Centenas de pessoas dedicam-se na Ilha de Luanda à venda de peixe descarregado diariamente por embarcações de pesca tradicional, actividade que é feita no areal, ao sol e sem qualquer tipo de protecção. E é feita há muito muito tempo, recorde-se.
O Plano de Gestão Ambiental do Porto Pesqueiro de Luanda é um estudo realizado pela empresa de limpeza e electrodomésticos ECOSEL, em colaboração com a Empresa Portuária de Pesca de Angola (PESCANGOLA), instituição pública gestora do Porto Pesqueiro de Luanda.
A governante criticou ainda a forma como é comercializado o peixe no Mercado da Mabunda, uma das praias a sul de Luanda, recordando que a missão do sector que dirige vai apenas até ao grossista, mas sublinhou ser indispensável que o peixe chegue ao consumidor em óptimas condições.
“Fizemos agora as instalações do Mercado da Mabunda que, de facto, era uma vergonha e ainda é o que lá se passa. E foi pedido ao ministério para fazer um novo mercado com condições higiénicas boas”, observou.
Victória de Barros Neto assumiu ainda a necessidade de trabalhar no processo da logística e distribuição do peixe, com o apoio do sector privado.
Classificando este cenário como “preocupante”, a governante exortou sobretudo aos armadores para a necessidade de uma mudança de comportamento.
“As peixarias, por exemplo, têm de ser do sector privado, no sentido de interceder para que a venda do pescado se faça em condições óptimas. Temos dito aos nossos armadores que o peixe é um recurso de todos angolanos, os nossos armadores têm o privilégio de terem já uma licença de pesca”, acrescentou.
Em relação aos resultados do Plano de Gestão Ambiental do Porto Pesqueiro, a ministra da Pesca e do Mar defendeu a sua implementação em todos os recintos portuários do país, alertando ainda para a necessidade da componente da educação ambiental junto de todos os intervenientes.
“Porque temos uma responsabilidade que é colectiva (…). Reconhecemos que no Porto Pesqueiro a actual situação higiénica, de facto, não é das melhores, e foi precisamente por isso que foi feito o estudo”, concluiu.
Já final de 2012 foi revelado um estudo efectuado ao pescado comercializado na praia da Mabunda desaconselhava a aquisição de peixe naquela zona devido aos altos níveis de contaminação microbiológica, que constituem “um risco à saúde pública”. Os dados do referido estudo, qualitativo e quantitativo, foram apresentados durante as XVI Jornadas Técnico-Científicas do Instituto Nacional de Investigação Pesqueira (INIP), órgão tutelado pelo Ministério das Pescas de Angola.
Duas empresas que praticam naquela praia a pesca semi-industrial, utilizando como arte de pesca o cerco, foram os alvos da pesquisa, que teve como objectivo obter informações sobre a qualidade microbiológica do pescado comercializado na Mabunda.
Maria Pedro Nicolau, pesquisadora do INIP, disse então que as duas empresas usam as mesmas técnicas de pesca, diferenciando apenas na forma de desembarque do peixe. A fonte explicou que é na forma de desembarque que reside o problema, já que nas suas várias etapas até chegar ao cliente não são observadas as medidas de higiene recomendáveis.
“Os resultados obtidos evidenciam deficiências na higiene, bem como na conservação e na manipulação do pescado durante as operações rotineiras de desembarque, visto que o nível de contaminação aumentou conforme a manipulação nas diferentes etapas do processo de desembarque, o que constitui um risco à saúde pública”, referia o estudo.
O peixe contaminado, sublinhava o documento, pode causar prováveis ocorrências de casos de infecções bacterianas, intoxicação alimentar, que “necessitam de uma intervenção urgente das autoridades competentes (Ministério da Saúde, do Ambiente, da Agricultura e Pescas)”.
Durante o estudo foram analisadas 100 amostras de pescado de diferentes espécies, nas quais foram feitas recolhas aleatórias de diferentes indicadores microbiológicos (bactérias aeróbias mesófilas, coliformes totais, fecais, E. coli, “enterococcus faecalis”, esporos de clostridios sulfito-redutores e salmonela).
Maria Pedro Nicolau referiu que este estudo – que constituiu a sua dissertação de defesa de mestrado – foi o primeiro realizado naquela praia, salientando que pretende dar continuidade ao mesmo, porque uma das empresas está a melhorar as condições de desembarque. “Gostaria de continuar a fazer o estudo (…) para ver qual é agora a qualidade microbiológica do pescado, se houve melhorias ou não”, manifestou.
À praia da Mabunda acorre parte considerável dos habitantes da cidade de Luanda para a compra de peixe, registando-se uma maior procura nos fins-de-semana de consumidores e revendedores. Além da venda do peixe, outros comerciantes de diferentes produtos utilizam o espaço, deixando o local sem condições de higiene, que são minimizadas com campanhas de limpeza efectuadas pelos utilizadores da praia.
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